Eritromicina: Para que serve, como funciona e cuidados essenciais

Eritromicina: Para que serve, como funciona e cuidados essenciais

Quando alguém tem uma infecção, ouvir o nome “eritromicina” pode gerar dúvidas e até um pouco de medo. Afinal, tomar um antibiótico nunca é brincadeira. Alguma vez você já sentiu dor de garganta forte, foi ao médico e saiu com uma receita desse remédio? Pois é, esse cenário é mais comum do que parece. O interessante sobre a eritromicina é que, apesar de já existir há mais de 70 anos, ela ainda se mantém como uma escolha frequente dos médicos para combater algumas bactérias resistentes. Não é só nostalgia: ela funciona, e muito bem – principalmente quando outros antibióticos não fazem efeito.

O mais curioso é que a eritromicina foi descoberta meio que “por acaso” durante uma expedição nas Filipinas para buscar outros antibióticos, logo depois da Segunda Guerra Mundial. E não, ela não foi fabricada em laboratório no início – surgiu de um microrganismo chamado Streptomyces erythreus retirado do solo. Com o tempo, ela virou um clássico para tratar infecções respiratórias, de pele, ouvidos, garganta, entre outras. Algo que nem todo mundo sabe: ela já salvou a vida de recém-nascidos com pneumonia e evita até cegueira em recém-nascidos, quando aplicada nos olhos logo após o parto, para prevenir infecção causada pela clamídia.

Mas não adianta só saber disso e querer pedir a eritromicina na farmácia como se fosse um remédio para dor de cabeça. Porque usar antibióticos de forma errada alimenta ainda mais o problema da resistência bacteriana. Ou seja, quanto mais usamos antibióticos sem necessidade, maiores as chances das bactérias aprenderem a “driblar” o remédio. Por isso, os médicos insistem tanto na receita controlada e no uso completo do tratamento, mesmo que a melhora venha antes do prazo terminar. Se você sempre achou exagero, já sabe o motivo real.

Como a eritromicina combate as infecções

Sabe aquele esquema do ladrão que tenta invadir uma casa cheia de segurança? Eritromicina age assim contra as bactérias. Ela intercepta um processo chamado “síntese proteica” – basicamente, bloqueia a “fábrica” interna que a bactéria usa para se multiplicar. Sem conseguir produzir proteínas, a bactéria perde a força e morre. Essa ação não é geral para qualquer micróbio: funciona mesmo contra bactérias chamadas “gram-positivas” e algumas “gram-negativas” específicas, como as responsáveis por sinusites, amigdalites, algumas pneumonias, infecções de pele e até em casos de coqueluche.

Se você pensa que a eritromicina só vem em comprimidos, já se enganou. Tem em pomada, solução oral, xarope e até injetável. Isso faz dela uma opção versátil quando o paciente não pode engolir comprimidos, por exemplo. Inclusive, muitos dermatologistas usam a eritromicina em gel para tratar acne moderada, principalmente quando a pessoa não tolera a versão em comprimidos ou quer evitar os efeitos colaterais sistêmicos.

Outro detalhe que faz a diferença: ela atravessa bem as barreiras do corpo, como a pele e mucosas, e atinge concentrações boas nas áreas inflamadas. Isso facilita o combate nas regiões de infecção mais complicadas, como os pulmões ou o canal auditivo. Além disso, é uma das poucas opções para pacientes alérgicos à penicilina, porque não causa reações cruzadas com essa classe tradicional de antibióticos. Se você já ouviu alguém comentar “sou alérgico à penicilina, e agora?”, provavelmente o médico considerou a eritromicina como uma alternativa segura.

Quando e como usar: dicas práticas e orientações realistas

Nesse ponto, muita gente erra feio. A eritromicina, como qualquer antibiótico, precisa ser usada na dose certa, nos horários certos e pelo tempo exato prescrito – nem um dia menos, nem um dia a mais. Por quê? Porque parar antes do tempo abre a porta para que as bactérias mais resistentes sobrevivam. Já tomou antibiótico, melhorou rápido, largou o tratamento e depois voltou a ficar doente, só que pior? Pois é, culpa desse descuido.

  • Não tome eritromicina para gripe, resfriado ou qualquer doença causada por vírus. Antibióticos não tratam vírus, só bactérias.
  • Use junto de um copo cheio de água e, se possível, em jejum ou pelo menos longe das refeições, pois alimentos ricos em gordura ou em cálcio podem diminuir a absorção do remédio no intestino.
  • Respeite os horários: se a indicação for de 6 em 6 horas, coloque o despertador no celular. Perder uma dose pode parecer bobeira, mas para a bactéria é a brecha que ela estava esperando para resistir ao tratamento.
  • Evite tomar durante a gravidez sem antes conversar com o ginecologista. Apesar de ser considerada mais segura que outros antibióticos, ainda pode causar problemas no início da gestação.
  • Lembre de informar o médico caso use outros remédios, especialmente antiácidos, anticoagulantes e alguns remédios para o coração, porque a eritromicina pode aumentar ou diminuir o efeito dessas drogas.
  • Preste atenção nos sinais de alergia, como coceira, vermelhidão, inchaço no rosto e falta de ar. Pare de usar e procure um médico se perceber sintomas assim.

Na prática, as pessoas esquecem as regras principais porque o uso acaba sendo repetitivo. Mas cada infecção é diferente, o bicho que você está combatendo hoje pode não ser o mesmo de amanhã. E não adianta pegar aquele estoque velho de antibiótico guardado na gaveta: ele pode nem funcionar mais, e pior, pode ter perdido a validade e se tornado perigoso. Sabia que há casos de pessoas que desenvolveram problemas renais e hepáticos por usarem antibióticos vencidos ou armazenados de maneira errada? Vale mais ir ao médico e pegar a orientação certa do que arriscar a saúde.

Efeitos colaterais: do mais leve ao inesperado

Efeitos colaterais: do mais leve ao inesperado

A história da eritromicina não é só de glórias. Como qualquer remédio, ela também pode trazer efeitos colaterais. E aqui vai um dado prático: cerca de 10% das pessoas podem ter sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito, dor de estômago ou diarreia. Em muitos casos, esses incômodos somem em dois ou três dias, mas têm gente que fica tão desconfortável que prefere parar o remédio antes da hora. Não faça isso sem avisar o médico – pode ser possível trocar pela versão de liberação estendida, que pesa menos no estômago.

Agora, sabe aquela história de “remédio que cuida de um problema mas gera outro”? A eritromicina pode mexer na flora do intestino, abrindo espaço para o crescimento de fungos, como a cândida, tanto na boca quanto na região genital. Por isso, muita gente nota placas brancas na boca ou corrimento diferente durante o uso. Não é motivo para pânico, porém vale relatar ao profissional para ajustar o tratamento.

Uma curiosidade – e um cuidado especial para quem tem problema no fígado: a eritromicina é metabolizada principalmente pelo fígado. Em pessoas com doenças hepáticas, pode ser preciso ajustar a dose ou mesmo trocar de antibiótico. Tem relatos na medicina de hepatite medicamentosa causada por uso prolongado, embora esse seja um efeito raro. Se aparecerem olhos ou pele amarelados, urina escura ou coceira, procure atendimento com urgência.

Outro detalhe importante é o risco de interação com outros medicamentos. Sabe por quê? Porque a eritromicina “competiu” com outros remédios na metabolização pelo fígado, e isso pode aumentar ou diminuir a ação deles. Por exemplo, em quem toma anticoagulantes, pode dobrar o risco de sangramento. Em quem usa certos anti-histamínicos, pode causar alteração no ritmo do coração. Não é indireta para jogar medo, mas para lembrar que avisar todos os remédios que você usa é fundamental na consulta.

Falando em coração, existe o risco, principalmente em doses altas ou uso prolongado, de alterações nos batimentos (prolongamento do intervalo QT, para quem já ouviu algum médico citar esse termo estranho). Quem tem histórico de “arritmia” precisa de acompanhamento e, se possível, EEG para monitorar qualquer mudança elétrica no coração.

O futuro da eritromicina na luta contra bactérias resistentes

Hoje, com tantas bactérias criando resistência até mesmo aos antibióticos de última geração, a eritromicina ganha papel curioso: voltou a aparecer nas pesquisas como base para novos remédios. Muita gente acha que é um produto do passado, mas a verdade é que cientistas mexem na estrutura química dela tentando criar antibióticos “turbinados”, capazes de driblar bactérias que já não respondem aos medicamentos clássicos.

Além disso, a indústria farmacêutica busca novas versões com menos efeitos colaterais e com promessa de ação prolongada. Já se discute, por exemplo, o uso de nanopartículas ou formas de liberação controlada, para que o princípio ativo chegue mais longe e fique mais tempo no corpo, matando até as bactérias mais teimosas. A telemedicina, que cresceu muito nos últimos anos, facilita o monitoramento dos efeitos e da adesão ao tratamento – já existem aplicativos que lembram você das doses e avisam se está na hora de renovar a receita em consultas virtuais.

Na prática, a maioria das pessoas vai cruzar com eritromicina pelo menos uma vez na vida, seja tratando uma infecção comum ou precisando dela por conta de alergia a outras opções. O segredo, como todo médico insiste, é não fazer automedicação e não repassar antibiótico a conhecidos, nem se for para um simples resfriado. Um estudo publicado em 2023 mostrou que em certas regiões do Brasil, 1 em cada 4 prescrições de antibióticos foi feita sem exame laboratorial que comprove infecção bacteriana. Ou seja, estamos recuando em educação sobre uso racional dos remédios.

Quem quer se proteger contra infecções e evitar problemas maiores não pode se apoiar só nas fórmulas mágicas dos antibióticos. Cuide da imunidade, siga as orientações de profissionais sérios e mantenha o histórico atualizado dos remédios de que já fez uso, inclusive se teve reações inesperadas no passado. Lembre-se: cada corpo reage de um jeito, e nem tudo que resolveu um problema antes vai servir para todos os casos. O papel da eritromicina, apesar de tradicional, segue fundamental – mas sempre com consciência, informação e cuidado no uso.

Everaldo Barroso
Everaldo Barroso

Sou Everaldo Barroso, especialista em produtos farmacêuticos e apaixonado por escrever sobre medicações, doenças e suplementos. Tenho vasta experiência na indústria farmacêutica e me dedico a pesquisar e compartilhar informações sobre as mais diversas formas de tratamento disponíveis. Além disso, busco sempre atualizar-me com as últimas descobertas e tendências na área da saúde. Acredito que o conhecimento é a chave para a prevenção e o tratamento adequado das doenças, e, por isso, me empenho em compartilhar meu conhecimento com o maior número de pessoas possível.

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